12 setembro, 2006

Um filho estranho

Acordei molhada, encharcada de sangue. Minha cria deve ter saído enquanto eu dormia um sono profundo ilustrado por sonhos roxos cheios de flores e de anjos. Levantei da cama, encostei meus pés no piso frio (que a princípio ocasionaram um choque térmico) e caminhei entre o corredor limitador de espaço (entre roupas atiradas em cadeiras quebradas e calcinhas na pia do banheiro) até chegar na sala. Lá estava ele: devorando os peixinhos dourados do meu aquário, apesar deles parecerem que não se importavam muito com isso- peixe morto ou vivo só é diferente na hora de nadar-.Ali eu presenciei o triste fim dos seres aquáticos: Rúfalo, Miró, Pasquim e Astro! Que agora devem estar nadando no céu dos peixes ou em hipótese mais pessimista na barriga do meu alienígena.Sim, o meu alienígena saiu de mim e literalmente puta que pariu! E não me olhe assim (nesse olhar enigmático imaginário barato leitor), todos nós temos seres estranhos dentro de nós. Heterônimos, alter-ego, diabo, bissexualismo, bipolaridade, lombriga, esquizofrenia, chame como quiser! Mas os seres absurdos existem para a discórdia e lá veio ele, parecido com aquele do filme do Alien, ele saiu como um cuspe estúpido de um presidiário com gosto de tabaco na boca! Tive meu segundo choque do dia, só que esse não era térmico. Olhei para o Alien que também me olhou. Ele se aproximou de minha pessoa de uma forma tão inofensiva que até larguei a antena da TV que naquela altura do campeonato já tinha se tornado minha arma de guerra. Ele foi chegando, e chegando e chegando e eu ainda sentia o calor entre minhas entranhas que o seu corpo deixara em mim no meio da noite, e num estado único e surreal, aquele ser que mais parecia uma formiga gigante me beijou com todas as forças de seu coração e eu já hipnotizada pelo toque cedi àquele ser todo o meu corpo! Acabei sendo abduzida pelo Monstro para dentro de seu coração e de lá eu via meus peixes e a mim própria num cérebro confuso e ambíguo. Um dia, o monstro cansado de seu corpo pesado resolveu me expulsar de lá assim como Adão e Eva foram expulsos do paraíso. Deus meu! Eu devo Ter mordido alguma maçã inspirada em alguma cobra ou alguma outra coisa bem comprida. Por diante, sem rumo, sem chão e nenhuma personalidade vaguei por um tempo no corredor estreito sobre um piso frio de uma casa sem peixinhos até que gotas vermelhas escorreram novamente e antes de pôr meu OB de lá surgiu um novo ser, uma nova esfera que me aproximou de alguma visão nova de mundo, paixão ou realismo. PS: para todas as pessoas que se envolveram com universos duais e se apaixonaram pelos objetos visuais que foram projetados nas suas retinas e mentes!

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